Entre os conceitos de entregabilidade, aquele que gera mais dúvidas é, sem dúvida (🤡), o das Spamtraps. Não necessariamente porque as pessoas desconhecem o que são ou como funcionam, mas sim pelo que realmente significam. Um pouco de mim morre sempre que ouço algo como: “Não podemos limpar a lista para remover as Spamtraps?”.
Sou especialista em entregabilidade de e-mail e desde que trabalho nesta área, uma das maiores dificuldades que tenho sentido é o entendimento incorreto e persistente de alguns conceitos básicos de entregabilidade. Não sei se isto acontece porque o material informativo disponível não é suficientemente claro ou se simplesmente não se dá a devida importância a estes temas (pessoalmente, acho que é mais a segunda hipótese, todos queremos sempre a solução mais simples e rápida, mas no que toca a entregabilidade… isso não existe).
Por isso, decidi fazer este post para tentar finalmente (espero!) desmistificar não só as Spamtraps, mas também outros conceitos relacionados com entregabilidade.
Contents
- Spamtraps, afinal o que são?
- Mas não sou um Spammer, e não fiz nada de errado, como foram lá parar?!
- OK, percebi! Podem então por favor limpar as Spamtraps da minha lista?
- Então tudo que já tenho na base devo desconsiderar e remover?
- E os endereços que não são confirmados mas pertencem a clientes com os quais tenho uma relação de negócio ativa?
- Resumindo
Spamtraps, afinal o que são?
Acredito que alguns de vocês nunca tenham ouvido falar de Spamtraps. Mas o que é que isso significa?
Spamtraps são, como o nome indica, endereços de e-mail “armadilha”, que não pertencem a um subscritor real. Podem ser endereços totalmente falsos criados por ESPs (E-mail Service Providers) como Google, Microsoft, Yahoo, ou até endereços geridos por serviços anti-spam como Spamhaus, SORBS ou Spamcop.
São portanto endereços que nunca se inscreveram para receber comunicações, muito menos confirmaram uma subscrição via Double Opt-In. São criados para se parecerem ao máximo com endereços reais, indetectáveis por serviços de limpeza, e existem para que ESPs e RBLs consigam identificar falhas na validação de subscrições/consentimento por parte de quem envia. Se eu nunca pedi para receber comunicações e mesmo assim estou a recebê-las, algo está errado nas tuas captações, ou então és simplesmente um spammer!!
Mas não sou um Spammer, e não fiz nada de errado, como foram lá parar?!
Na maioria dos casos, as Spamtraps acabam numa base de contactos devido à ausência de validação adequada do endereço ou da subscrição. Isso pode acontecer de várias formas, sendo as mais comuns:
Falta de validação do endereço/consentimento (Double Opt-In)
Se criamos um formulário de inscrição para uma newsletter, mas não enviamos um e-mail de confirmação (Double Opt-In) antes de começarmos a enviar comunicações, não temos qualquer garantia de que aquele endereço pediu realmente para as receber. Pensem: qualquer pessoa pode submeter o que quiser. Estes formulários são de acesso público e, se algo está na Internet, vai ser atacado.
Os formulários vão receber submissões falsas, é o que se chama mailbombing (notem que não digo que “pode” acontecer, mas sim que vai acontecer). Além disso, há os erros de digitação (typos): queremos colocar o nosso e-mail, mas submetemos o de outra pessoa, ou um inválido que depois resulta em bounce.
Com um Double Opt-In, sabemos que o e-mail é válido (porque chegou a um destino) e que houve uma pessoa real (ou não, caso a submissão não tenha sido genuína) a confirmar a subscrição e, muito importante, o consentimento. O Double Opt-In é, de longe, a forma mais eficaz de evitar a maioria dos problemas de entregabilidade e deve ser sempre utilizado.
Listas compradas
Nem devia precisar de dizer isto: se estão a usar listas compradas, parem. Uma lista comprada não tem contactos que deram consentimento e não garante a validade dos endereços. Por isso, as Spamtraps são frequentes nestas listas. Usar listas compradas é pedir problemas de entregabilidade e danos graves na reputação de quem envia.
Listas antigas
Muitas Spamtraps são endereços reais reaproveitados. Contas inativas (como um Gmail ou Outlook que deixou de ser usado) que acabam por ser desativadas e podem ser convertidas em Spamtraps. Isto serve para identificar quem não faz manutenção das suas bases e continua a enviar para os mesmos contactos, anos após eles terem deixado de abrir os e-mails. Nem sempre atingir Spamtraps significa que a base tem endereços inválidos, mas pode indicar que contém contactos antigos e desinteressados há muito tempo.
Estes exemplos aplicam-se também a qualquer base importada para a E-goi cujos contactos tenham entrado sem os devidos cuidados. Qualquer limpeza automática não consegue detetar Spamtraps e, tal como outro lixo, elas acabam por entrar nas listas.
OK, percebi! Podem então por favor limpar as Spamtraps da minha lista?
A minha primeira reação a esta pergunta é sentir um formigueiro pelo corpo (😟), mas vou respirar fundo e tentar explicar porque esta pergunta nem faz sentido.
Ouço isto muitas vezes, quase sempre sem considerar o que a existência de Spamtraps realmente implica. Talvez isto aconteça porque se entende mal a verdadeira função das Spamtraps. Não, elas não existem para arruinar a reputação de quem envia, elas existem para nos ajudar. Devem ser encaradas mais como uma ferramenta bem útil para o responsável pelos envios, os ESPs estão nos ajudar a identificar falhas nas captações, e o nosso caminho de ação não deve ser “Como posso remover Spamtraps?”, mas mais “Como é que elas vieram aqui parar?”.
Se sabemos que uma certa lista contém Spamtraps, então devemos assumir que a origem das captações é problemática, e todos os outros contactos que entraram pelo mesmo meio devem ser postos em causa, e enquanto essa situação não for resolvida, devem interromper os envios para essa base. De seguida devem olhar para a origem das captações e as proteger, ligar o Double Opt-In (solução infalível e que deve ser sempre usada), colocar Captchas nos formulários, usar todos os validadores de e-mail possíveis (e disponíveis na sua conta E-goi), etc.
Então tudo que já tenho na base devo desconsiderar e remover?
Se a origem da lista é duvidosa, é o melhor caminho (porém não é o único). Sei que não é a solução que gostariam de ouvir, mas se querem manter uma boa reputação como Senders e seguir as melhores práticas de entregabilidade qualquer contacto em que não exista registo CONFIRMADO de consentimento deve ser desconsiderado.
No entanto, isso não significa sempre apagar tudo e começar do zero. Podem haver dados adicionais que permitam salvar alguns endereços. Por exemplo, se no seu site tem uma área de utilizador onde o registo exige confirmação do e-mail, já sabemos que qualquer conta ativa tem um endereço válido e isso pode ser usado para reativar contatos.
Do mesmo modo, dados como a data do último login ou atividade podem ajudar a segmentar e identificar subscritores ainda relevantes.
Outra boa prática que pode ser adotada é a inativação de contactos sem interação recente (aberturas e cliques), ou melhor ainda, ter fluxos diferentes para subscritores inativos.
Uma inativação em massa talvez seja algo demasiado extremo (a não ser que a lista já seja muito antiga e não mantida), mas ter um fluxo diferente, reduzindo substancialmente a frequência de comunicações para quem não abre/interage, usar campanhas diferentes com mais incentivos, e acabar com uma ultima comunicação a perguntar se quer continuar a receber as mesmas, e depois sim, inativar. De notar que usualmente estas Spamtraps reaproveitadas são feitas após LONGOS (anos) períodos de inatividade do endereço, nem sentido faz ainda estarem a receber comunicações.
Em último caso, podem, de forma muito gradual, enviar campanhas de reativação dos subscritores, uma campanha a confirmar se o subscritor quer continuar a receber comunicações, que pode funcionar como um Double-Optin tardio, e é uma ótima tática para aproveitar uma lista duvidosa. Isto no entanto deve ser feito com cuidado e de forma gradual, diluída preferencialmente com outras comunicações, de forma a não enviar uma campanha massiva para a base problemática toda de uma vez que só vai trazer problemas de reputação.
E os endereços que não são confirmados mas pertencem a clientes com os quais tenho uma relação de negócio ativa?
Se não existiu dupla confirmação, não existe garantia que o endereço existe, pertence à pessoa que querem comunicar, etc. Portanto sim, o problema é o mesmo. Podem sempre efetuar uma campanhas de Double Optin posterior, não necessita de ser quando submeteram ou obterem o endereço, a mesma até pode estar escondida no meio de uma campanha normal, é só ser criativo, o importante é que dela resulte uma ação humana que confirme o endereço e consentimento (esta parte não se aplica se for uma relação de negócio ativa, mas a confirmação do endereço é importante na mesma).
Resumindo
As Spamtraps não são inimigos a eliminar, mas sim sinais claros de que algo está errado nas captações ou manutenção das listas e é ai que devemos atacar. O mesmo acontece com listagens em Blacklists. Não adianta solicitar a remoção se não fizermos mais nada. Antes pelo contrário até, porque cada vez vamos ficar de novo bloqueados e a certo ponto os ESPs simplesmente deixam de remover essas listagens. O foco deve ser sempre em corrigir a raiz que o originou, e depois de isso estar resolvido, aí sim podemos solicitar a remoção de Blacklists.
Em entregabilidade, quem resolve apenas os sintomas vai ter problemas recorrentes, vai ter uma fraca reputação e nunca conseguirá ter bons resultados nos envios. Só quem trata a causa constroi e mantém uma reputação sólida e sustentável. Quem avisa, amigo é 🙂
Espero que agora entendam melhor o que são as Spamtraps e, acima de tudo, que percebam que o verdadeiro foco deve estar em prevenir a sua origem e não apenas em lidar com as consequências.